sábado, 9 de julho de 2005

As faíscas de um encontro explosivo

ana e jorge


Ana Carolina conversa animadamente, enquanto Seu Jorge, sentado em um canto de um sofá, olha para o lado. Os dois estão promovendo o disco e DVD “Ana & Jorge ao vivo” (Sony&BMG), mas uma divergência quanto ao figurino teria gerado uma briga — os dois já se envolveram em confusões do tipo antes — e a dupla parou de se falar.


Vai ser tenso — avisa a empresária Marilene Gondim.



A tensão dura na espera pelo atrasado Seu Jorge, e vai até a frase de Ana Carolina:
Você sabe que nós não estamos nos falando, né ? — pergunta ela. — Nós nos tornamos inimigos mortais.

É tudo somente sexo e amizade — emenda ele, de bate-pronto, iniciando a primeira sessão de gargalhadas. — Nosso único duelo está na música “Comparsas”, uma espécie de embolada em que apresentamos um ao outro.




Espontaneidade e política marcam o show

Explosivos, cheios de opiniões e eventualmente arrogantes, os dois destacam dois aspectos do novo projeto: a espontaneidade e a política.
Montamos o show sem pensar em CD, DVD, nada disso — diz Jorge. — Minha idéia inicial era bater uma carteirinha (gíria para “ganhar algum dinheiro”) no Tom Brasil, que me chamou para um show acústico, onde eu poderia ter um convidado. Chamei a minha cumádi Ana Carolina e consegui uma ótima visibilidade graças a ela. Seriam só dois shows, que ensaiamos na garagem da minha casa.

Quando a procura por ingressos fez a casa marcar mais uma data, e depois outra, veio a idéia de registrar os shows.
Fizemos isso nós mesmos, para nós mesmos — conta Ana, que bancou a gravação em parceria com Seu Jorge.



O parceiro, como sempre, tem uma percepção própria.
A gravação era para os nossos filhos, os que eu já tenho e os que a Ana pode vir a ter — diz ele. — Mas tudo funcionou tão bem, o público gostou tanto, que seria bobagem não lançar o registro.

No show, os dois resolvem tudo sozinhos, em diversos instrumentos. Há apenas uma participação, da violoncelista Flávia Mascareño.
É importante mostrar que a gente se garante — diz Jorge. — Podemos não ser os melhores instrumentistas, mas fica um show redondo.
Ana é a primeira a destacar um suposto lado político.

É importante a gente incentivar o debate — avalia ela. — Fiz a música “Brasil corrupção (Unimultiplicidade)” com o Tom Zé muito antes de a crise política pegar fogo. Temos que falar nisso sempre, não só quando há problemas ou perto das eleições.



O papo político-social é uma das especialidades de Jorge.
Temos que discutir as bases da unidade do povo brasileiro — discursa ele. — Não só os negros, ou os nordestinos, ou qualquer categoria ou classe social, mas o povo brasileiro. Temos uma credibilidade que os políticos não têm. O público gostaria de nos ouvir cantando só sobre o amor, mas nossa responsabilidade é maior.

Por isso ele incluiu o samba “Problema social”, antigo sucesso de Neguinho da Beija-Flor que conta a história de um menino pobre como ele.
— Além de me identificar com a letra, homenageio um dos autores, o Guará, uma promessa do samba que acabou assassinada — diz ele, atual morador de São Paulo. — Estou adorando. São Paulo também é Brasil, vamos combinar, né ? Aliás, é o coração do Brasil. Amo o Rio, mas não tenho saudades das praias nem do Arpoador. Não vim de lá, vim da Baixada Fluminense.

Ele se prepara para mais um ano cheio, o que deve sepultar as chances de mais shows:
Tenho que gravar um disco para o Brasil e outro para os EUA — conta ele. — E pelo menos três filmes, no Brasil, na Venezuela e na Espanha. Sou um ator brasileiro negro, tenho que aproveitar a demanda pelo meu trabalho.

Fonte: O globo