Mesmo se recuperando de um acidente de carro que a levou à UTI, a cantora mantém show no Rio, sobe ao palco de muletas e é dona da música mais tocada nas rádios Vivianne Cohen Leandro Pimentel Desde o início do mês, a música "Quem de Nós Dois" ocupa o primeiro lugar nas rádios. Dona de uma voz grave e potente, Ana Carolina tem mania de vestir roupas pelo avesso. No sábado 5, a cantora Ana Carolina, 26 anos, pareceu ter acordado de um pesadelo. Com a perna esquerda imobilizada por causa da fratura na tíbia que sofreu ao bater o carro - um Mercedes Classe A que se chocou com um poste na Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, na terça-feira 1º - , ela revelou a sua mãe, Maria Aparecida de Souza, que estava pronta para ensaiar no dia seguinte.
Pela primeira vez desde o acidente, que a deixou na UTI por um dia e lhe custou um corte na cabeça, Ana Carolina demonstrou vontade de continuar sua rotina e até deu gargalhadas. Apesar de não se lembrar do momento em que, cansada após um ensaio, perdeu o controle do carro, ela disse que o acidente foi um choque em sua vida. "Quero cuidar mais de mim agora."
Depois de ter cancelado a estréia do show de seu novo CD Ana Rita Joana Iracema Carolina em Belo Horizonte, a cantora chega dia 17 ao Canecão, no Rio, numa cadeira de rodas, e sobe aos palcos de muletas para estrear seu show. Desde que recebeu alta do hospital Barra D'Or e foi para casa, no Recreio dos Bandeirantes, seu celular não pára. Recebeu telefonemas de Adriana Calcanhoto e Daniela Mercury, preocupadas com seu estado de saúde.
Após lançar seu primeiro álbum, Ana Carolina, que vendeu 100 mil cópias, ela se tornou a queridinha de bambas como João Bosco, Rita Lee e Marina Lima. Em dois anos de carreira, viu ídolos que ouviu na vitrola durante a adolescência tornarem-se seus admiradores. A prova maior de seu prestígio: um telefonema do produtor de Chico, Almir Chediak, dizendo que o compositor exigia que duas músicas de seu songbook fossem gravadas por ela. No jantar que reuniu os cantores da trilha do filme Amores Possíveis, Ana Carolina ficou frente a frente com Chico Buarque, seu maior ídolo. Trêmula, só conseguiu pronunciar o nome de seu novo CD, Ana Rita Joana Iracema Carolina. Chico sorriu. Percebeu que o título eram os nomes das mulheres cantadas por ele em suas músicas.
"Acho que já consegui me diferenciar de Zélia Duncan e Cássia Eller'' diz Ana Carolina. Lançado há um mês, o novo álbum já vendeu mais de 100 mil cópias. Está em primeiro lugar em São Paulo e só perde para o último CD da Legião Urbana na lista dos mais vendidos no Rio. Desde o início do mês, a música "Quem de Nós Dois", da trilha da novela Um Anjo Caiu do Céu, ocupa o primeiro lugar nas rádios. "Não esperava esse reconhecimento todo", diz. Além da voz grave e potente, Ana Carolina é a única mulher no showbizz a tocar pandeiro. E aprendeu sozinha, aos 19 anos, assim como o violão e a guitarra. O ouvido foi apurado desde pequena. De família de músicos - sua avó cantava em rádio e seus tios-avós tocavam violino, cello, piano e percussão -, ela sempre soube seu destino, apesar de ter cursado Letras até o sexto período em Juiz de Fora. Nessa época, já se apresentava como cantora em barzinhos. Não demorou a ser convidada para cumprir uma temporada de shows no Teatro Municipal da cidade. Pediu ajuda a uma amiga, que indicou a atriz Zezé Motta para produzir o espetáculo. "Ela estava um pouco insegura porque o ambiente era formal. Mas encontrei uma cantora pronta", lembra Zezé, que também assinou a produção do segundo show de Ana Carolina, ainda em Minas. "Na terceira vez em que me convidou, disse que só aceitaria se ela se apresentasse no Rio. Ela topou e sua carreira deslanchou."
FUMAR CHARUTO Na infância, a cantora passava o dia no salão de cabeleireiro da mãe e fazia do rolo de cabelo seu microfone. Hoje, Ana Carolina freqüenta salões de beleza quase toda semana. "Sou muito vaidosa, esse é um de meus piores defeitos", assume. Em relação à roupas, nem tanto. Uma de suas manias é vestir tudo pelo lado do avesso. Certa vez, ao entrar numa loja de grife levou a vendedora ao desespero ao sair de lá com um casaco caríssimo vestido ao contrário. "Já tive várias brigas com a minha mãe por causa disso", diz. A personalidade forte de Ana Carolina também se revela em sua casa, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio. A sala costuma ficar suja de respingos das pichações que a cantora faz quando pinta. Fumar charutos é outro hobby. "Só não posso fumar muito para não afetar minha garganta."
Ana Carolina não gosta de comparações. Com o timbre parecido com o de Cássia Eller e Zélia Duncan, ela põe panos quentes se o assunto é a semelhança musical. "Acho que já consegui me diferenciar delas. Ao mesmo tempo, fico honrada de saber que estou no mesmo patamar", diz. Não age, porém, com a mesma desenvoltura ao falar sobre sua vida pessoal. Questionada sobre cantoras da MPB que assumem a opção homossexual, ela reage: "Você vai me perguntar se sou gay?". Diante da afirmativa, ela devolve secamente: "Não gosto de falar sobre minha vida pessoal. Sou tímida"
Fonte: Isto É