POR JOÃO LUIZ VIEIRA,
EDITOR DE VARIEDADES
A idéia do show “Elas cantam Roberto/Divas” era, em si, genial: reunir 20 cantoras (profissionais ou não) para suspirar por Roberto Carlos, que completou 50 anos de estrada neste ano. Praticamente tudo deu certo no evento da última terça-feira, no Theatro Municipal de São Paulo, que vai virar CD, DVD e um especial de TV no próximo domingo (31), na TV Globo, depois do “Fantástico”. O mais incrível foi misturar uma brega com uma chique, uma veterana com uma iniciante, uma que se joga no samba e a outra no canto lírico. A platéia, eclética como o repertório, juntou senhoras de laquê e paetês no vestido com jovens usando jeans e tênis Converse. A seguir, o que achei de cada apresentação:
- Hebe Camargo ("Você não sabe"): Tão carismática quando RC, a apresentadora e cantora bissexta mostrou segurança e as jóias mais valiosas de seu cofre.
- Luiza e Zizi Possi (“Canzone per te”): Mãe e filha, vozes muito similares. Foi um dos momentos emocionantes por mostrar talento de duas gerações da mesma família.
- Zizi Possi (“Proposta”): Apesar da roupa que a confundiu com um sorvete de creme e chocolate amargo, a cantora cantou suave, com a classe de sempre.
- Alcione (“Sua estupidez”): Em uma palavra: sensacional. Quando ela entrou, até o lustre de cristal do teatro balançou e aplaudiu. Ninguém superou o seu vozeirão.
- Fafá de Belém (“Desabafo”): O melhor casamento entre música e cantora. Uma das músicas mais “bregas” de RC ganhou dignidade em sua voz grandiloquente.
- Celine Imbert (“A distância”): Foi exatamente o contrário. Cantora errada com música descolada. Pena. Não precisava. Dava para incluir Vanessa da Mata nessa vaga.
- Daniela Mercury (“Se você pensa”): Um equívoco. Parecia mais preocupada com a coreografia de escola de jazz do que com sua interpretação.
- Daniela Mercury e Wanderléa (“Esqueça”): Wanderléa engoliu Daniela. Parecia que a mais velha era filha da mais nova. Importante: o corpo da melhor amiga do RC está tinindo.
- Wanderléa (“Você vai ser meu escândalo”): Música menos óbvia do repertório, com interpretação legitimamente emocionada. A platéia foi às lágrimas. Ou pensou nisso.
- Rosemary (“Nossa canção”): Como se fosse uma sereia rouca, cantou e embasbacou a audiência com a boa forma aos 61 anos. É um outro estilo de canto, mas deu o recado.
- Fernanda Abreu (“Todos estão surtos”): O primeiro momento verdadeiramente moderno da noite. Linda, quase cinquentona, Fernanda trouxe a batida do funk ao show.
- Paula Toller (“As curvas da estrada de Santos”): Uma das músicas mais lindas, inesquecível na voz de Elis Regina, ficou com a menor voz do elenco. Pena.
- Marília Pêra ("120, 130, 300 por hora”): O momento mais controvertido. Como se uma Medéia da tragédia grega tivesse roubado as chaves do carro de RC. Gostou, apesar do tom a mais.
- Marina Lima (“Como dois e dois”): A mais sexy da noite, com vestido preto e uma guitarra vermelha na pélvis. A voz está bem melhor, a postura de roqueira. Inesquecível.
- Sandy (“As canções que você fez pra mim”): Ela parece um bezerro cantando. Não gosto, mas sei que ela é querida por muitos. Bom para ela. A roupa também estava inadequada.
- Mart’Nália (“Só você não sabe”): Cantou a música menos conhecida e arrasou porque trouxe o estilo RC para sua ginga tipicamente carioca. Cantou de terninho.
- Adriana Calcanhoto (“Do fundo do meu coração”): Das músicas mais lindas do show. A cantora dispensou a orquestra, sentou no banco e sacou o violão. Bem cool, mais murcho.
- Cláudia Leitte (“Falando sério”): Apesar de cantar bem, deu uma exagerada no tom. A música pede menos desespero, e mais desamparo. Estava bem sexy.
- Nana Caymmi (“Não se esqueça de mim”): Uma das melhores vozes do mundo, cantou uma música fraca para o seu potencial. Esperava mais, mas o menos dela é sempre dez.
- Ana Carolina (“Força Estranha”): Outro casamento perfeito: música e cantora. Só foi superada por Alcione em potencial vocal. Não gosto do que ela faz, mas que ela é uma força estranha, ela é.
- Ivete Sangalo (“Seus botões” e “Olha”): Na primeira, entrou quase sem voz. Na segunda, errou a letra três vezes. Ninguém entendeu. Mas estava linda de grávida e de coapresentadora.
Depois Roberto Carlos entrou de Ricardo Almeida no corpo. Foi a apoteose.
Fonte: Revista Marie Claire
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