quarta-feira, 2 de abril de 2008

Sem Conserto

“É reprimido quem se incomoda com pessoas que se liberam sexualmente.”




Sumário:
Depois de rodar (e “escandalizar”) o país com seu show “Dois Quartos”, Ana Carolina ganha registro ao vivo que vai ao ar no Multishow.

Contra os retoques e correções digitais, a cantora lança Multishow ao vivo – Dois Quartos. Agora só quer saber do ócio criativo.


Você já lançou outros dois discos gravados ao vivo (o solo Estampado, de 2003, e Ana & Jorge, em parceria com Seu Jorge). Qual é o barato em fazer mais um álbum em cima do palco?


Prefiro fazer discos ao vivo porque não á chance de refazer nada. Hoje em dia, quando você grava um disco em estúdio, com toda essa parafernália digital, á muitas opções. Não sei quantos takes de voz, de guitarra e pode mexer e alterar tudo. E ao vivo a gente não precisa refazer nada. É o que valeu, a fotografia do momento. Por incrível que pareça, acho que desse jeito faço melhor, rendo mãos. É “1, 2, 3, 4” e começa. Prefiro assim a ter muitas opções. A escolha é muito dolorida.


Esse Multishow ao vivo também é um programa de televisão e um DVD. Isso representa alguma mudança na concepção do trabalho?


A gente já estava com esse trabalho na estrada, com a mesma banda. Foi fácil, não teve mistério. Acho que hoje em dia as pessoas estão consertanto muito as coisas. Tudo fica muito afinado, no tempo certo, todo mundo tocando direitinho. Falta sujeira! Quando a gente grava ao vivo o som fica mais verdadeiro, mais simpático menos robótico. Claro que tem gente que faz isso em estúdio. Estava ouvindo agora um disco do Wilco em que o som é supertosco e tem muitas sujeiras e tal. Acho legal conseguir ouvir no disco essa parte humana.


Acendeu-se a polêmica sobre a projeção do vídeo durante a música “Eu comi a Madonna”. Como foi?


Pois é, algumas pessoas ficaram assustadas. É um vídeo erótico sadomasoquista com mulheres se amarrando e tal. Na verdade são imagens da {pin-up} Bettie Page. Não tive a intenção de causar polêmica. Era mais para ilustrar a música, porque o estilista Jean-Paul Gaultier se inspirou na década de 1950 para fazer alguns figurinos para os show da Madonna. Ou seja, era uma música que falava da Madonna e a gente decidiu colocar um vídeo que tivesse referências à década de 1950. E nisso algumas pessoas ficaram meio chocadinhas, gente que talvez não se incomode com a polícia matando gente inocente nas favelas do Rio de Janeiro.




Não gostar é uma coisa, mas não entender é desprezível. Não faz o menor sentido. Vai ler jornal, vai se preocupar com coisas mais importantes. A água está acabando e tem gente perdendo tempo na internet pra falar de um vídeo de show! Cá pra nós! [risos]



O moralismo incomoda a ponto de servir de inspiração?


Claro que essa raiva que sinto pode me alimentar em fazer algo. Vivemos em uma sociedade muito retrógrada apesar de alguns avanços. Mas uma coisa: eu não descobri a pólvora muita gente já fez isso antes de mim. As pessoas ainda se incomodam com certas coisas e é um problema delas. Se uma pessoa tem esse tipo de problema é porque existe alguma questão mal resolvida. É reprimida ou reprimido quem se incomoda com pessoas que se liberam sexualmente.


E depois de lançar esse CD e DVD? Volta ao estúdio?


Tenho andado superpreguiçosa, porque o Dois Quartos tem 24 canções, e destas, 22 são de minha autoria. Isso me deu um certo cansaço... Fora que também fiz “Cabide” para a Mart’nália; “Eu que não sei quase nada do mar”, em parceria com o Jorge Vercilo, para a Maria Bethânia; “Escuta” e “Verão e Inverno”, para a Luíza Possi; “Eu já notei” com o Totonho Villeroy, para a Paula Lima. Quer dizer, a fonte baixou um pouquinho. Agora estou começando a votar a compor ma bem devagar. Estou precisando ficar no ócio, viajar.


Mudando um pouco de assunto: com a experiência de participar do programa Saia Justa?


Eu aprendi a falar! [risos] Não é da minha natureza bater papo, e no Saia Justa tive que aprender a me virar. Consegui exercitar esse lado e melhorei bastante. Também porque o programa tem tópicos muito interessantes para discutir. Aprendi muito sobre os conflitos em Israel, por exemplo. Foi muito interessante, abriu minha cabeça. E quando o papo ficava muito cabeça, dava uma cochilada [risos]. Aí a Batty Lago me dava um chutão no pé, eu acordava e falava alguma coisa [risos].



Multishow ao vivo - Ana Carolina: Dois Quartos, dia 3, quinta, 21h45, Multishow

Fonte: Revista Monet, mês de Abril.

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