quarta-feira, 25 de abril de 2001

Ana canta as mulheres

As peculiaridades do universo feminino dão o tom do novo CD da mineira Ana Carolina Está escrito na contracapa Ana Rita Joana Iracema e Carolina: ''Concebido por Ana Carolina.'' A frase rara hoje em dia - ''produzido por'' e ''direção artística'' são muito mais comuns - dá ao ouvinte do segundo disco da mineira Ana Carolina a certeza de que o trabalho foi todo muito bem controlado por ela. ''É um disco conceitual. Fala do universo feminino, o meu'', confirma a moça de 26 anos e de voz forte que, no encarte, fez questão de não dispensar elementos que preenchem esse mundo: anéis, cabelos, lábios cobertos por batom, um amontoado de esmaltes ao lado dos apetrechos de uma manicura, bicho de pelúcia.


O universo feminino e de Ana é mais convidativo quando está iluminado, longe da escuridão das canções com interpretação melancólica que predominam no disco, que teve como produtores Nilo Coelho, Marcelo Sussekind e Dunga. Implicante, faixa raivosa composta por ela mesma e que, de início, fica ótima graças ao diálogo de voz com o pandeiro enfurecido de Marcos Suzano. ''Essa música eu fiz num dia'', diz Ana Carolina. Não se deixe impressionar por esta marca. Há melhores: Dadivosa, parceria dela com Adriana Calcanhotto e Neusa Pinheiro, levou só 25 minutos para ficar pronta. ''Quando a letra é boa...'', explica e comemora a moça sobre a música que começa assim: ''Que bom se eu fosse uma diva/ Daquelas bem dadivosas/ Que sai vida entra vida/ Ficasse ali verso e prosa.''


Como falar do universo das fêmeas não é das coisas mais simples do mundo, houve partos mais difíceis. A câmera que filma os dias, uma das três parcerias dela com Totonho Villeroy, demorou dois meses e meio para ficar pronta. ''Mas o disco como um todo foi feito num impulso. Em três meses estava pronto'', diz a cantora. Com Villeroy ela também fez a animadinha Confesso e a mais-para-balada Que se danem os nós, que funciona melhor. Como contraponto não só a esta balada, mas a toda feminilidade que colore o trabalho, Ana Carolina quis gravar uma música de Alvin L, Eu nunca te amei idiota, do primeiro LP do grupo Sex Beatles. ''É mais um momento da minha inconstância. É o contraponto a todas as canções românticas do disco'', explica. ''Cinzeiros voando livros rasgados/ Discos quebrados no chão/ Desta vez é pra sempre/ Até... alguém implorar por perdão'', escreveu Alvin.


Não é o único momento, digamos, raivoso do disco. A bolacha tem também Joana, da própria Ana Carolina. ''Eu tinha acabado de ler O pelicano, um livro de Adélia Prado'', diz a cantora, para explicar por que dedicou a música à escritora. Explica aí também de onde tirou inspiração para dar um tom bluesy à interpretação e para falar de Billie Holiday.


A única participação especial do disco fica por conta de Alcione, com quem Ana Carolina fez uma experiência em Violão e voz, outra composição sua. ''A intenção era ver como ela funcionava com uma roupagem mais moderna. Eu tinha certeza de que ia gostar. Alcione é uma referência, é uma cantora que canta à vera. Quem canta com emoção sempre me interessa'', diz entusiasmada. Duas outras coisas também a interessam: declamações bem feitas e gravar músicas que já foram consagradas noutras vozes. Por isso sampleou Maria Bethânia (trecho em Dadivosa) e investiu no clássico Que será (Marino Pinto/Mário Rossi), gravado por Dalva de Oliveira em 1950.


Ana Rita Joana Iracema e Carolina tem ainda uma regravação, a de Pra terminar, do paralama Herbert Vianna, originalmente gravada pelo Biquini Cavadão. Apesar de ser uma canção feita por um homem, Ana achou que casaria bem com o conceito do disco: ''Tem a coisa da dor feminina. Quando alguém vai questionar a relação, geralmente é a mulher. Há muito tempo queria regravar essa.''


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