sexta-feira, 20 de julho de 2007

Monique adorna com requinte 'quartos' de Ana

Resenha de Show
Título: Dois Quartos
Artista: Ana Carolina (em foto de Lu Yoshikawa)
Local: Canecão-Petrobrás (RJ)
Data: 19 de julho de 2007
Cotação: * * 1/2

anabyluyoshikawablogSem a aura de ousadia libidinosa alimentada por parte do público que assistiu à estréia, em Belo Horizonte (MG), em junho, o novo show de Ana Carolina, Dois Quartos, chegou ao Rio de Janeiro na noite de quinta-feira, 19 de julho, com baixo teor de erotismo. E o público que abarrotou o Canecão não deu sinais de incômodo com as inocentes cenas de amor lésbico vistas nos vídeos de Bettie Page projetados enquanto a cantora apresentou o tema Eu Comi a Madona. O primeiro número, Cantinho, que incorpora músicas gravadas por Madonna (Fever) e Moreno + 2 (Eu Sou Melhor que Você), prenunciou show quente, mas o calor veio, sobretudo, da platéia que idolatra Ana e faz coro em seus versos confessionais. Dois Quartos reafirma a sintonia entre a artista e o seu público.


O que se viu foi um show dirigido com sofisticação por Monique Gardenberg, com luxuoso cenário (um mix de cortinas e painéis espelhados) e iluminação arrasadora. Se há algum problema na decoração dos quartos, é no repertório que fica irregular quando Ana lança mão das músicas contidas no álbum duplo que batiza o espetáculo. E, no confronto com as músicas de CDs mais antigos (Trancado, Confesso, Uma Louca Tempestade), as novas perdem. Com exceções de Carvão, Ruas de Outono, Vai e algumas poucas outras. O set político - com Nada te Faltará e O Cristo de Madeira - resulta pouco impactante, apesar da projeção de imagens fortes.


Bloco por bloco, soa mais sedutor o que emenda Eu que Não Sei Quase Nada do Mar (a canção feita por Ana e Jorge Vercilo para Maria Bethânia), Trancado, Pra Rua me Levar (outra música dada para a Abelha Rainha) e Encostar na Tua. São momentos em que a cumplicidade com a platéia é maior. E Ana tem seu público na sua mão. A ponto de se arriscar no piano em É Isso Aí, de recitar (mal) um texto e de fazer uma infeliz incursão pelo repertório de Marina Lima. A letra de Três pedia uma leveza que Ana não tem em cena. Ao contrário, ela se porta como uma Leoa - como bem já a definiu certa vez a própria Bethânia - que engole o palco com voracidade.


O set de sambas tem repertório irregular, mas destaca uma música que Ana ainda não gravou: Cabide, cantada pela autora com um naipe de pandeiristas à frente. Um momento que se prolonga com o duelo de pandeiros travado por Ana (que se garante muito bem no instrumento) em pé de igualdade com o exímio percussionista Leonardo Reis. Terminado o espetáculo, paira a sensação de que Dois Quartos não é tão sedutor quanto o anterior Estampado. Mas Ana prima por não repetir fórmulas. Ela apresenta realmente um novo show, com outra estética e com outra linguagem. Ganha ponto por isso. E - nisso - reside o maior mérito de seu espetáculo.


Blog: Notas musicias / Mauro Ferreira

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