terça-feira, 28 de outubro de 2008

Quando o estranho vira encanto

Não conseguia tirar os olhos dela. Tinha um olhar firme e dedos precisos.


Ana é uma daquelas que podemos chamar de baladeira de plantão. Super animada, todo final de semana vai para uma balada diferente. No auge de seus 21 anos, é fã declarada de Ana Carolina e Isabela Taviani, para ela o segredo de uma boa festa é a música ao vivo com mulheres no vocal.


Ela já conhecia as músicas. Decorava todas as letras e, entre uma cantada e outra, desfilava pela pista e sempre achava uma presa fácil e vulnerável. Saía da balada contabilizando suas conquistas.



- Peguei 5 só na pista!

Certo dia, de curiosidade, resolveu conhecer uma festa diferente em um inferninho da Rua Augusta. Era uma festa lésbica, com bandas de rock de meninas. Guitarras distorcidas, meninas se jogando do palco. No início ela se assustou, mas com uma cerveja em mãos, escorou-se num canto e analisou o território. Definitivamente era bem diferente das festas que estava acostumada, ela não conhecia as letras das músicas, também não costumava ouvir rock, mas ficou impressionada com o extase coletivo. A platéia fazia coro e no palco a menina mais linda que jamais vira na vida impunhava uma guitarra e comandava o frenesi coletivo. Não conseguia tirar os olhos dela. Tinha um olhar firme e dedos precisos. "Encantadora de guitarras", pensou.




Seus cabelos repicados picavam seus ombros enquanto ela desfilava pelo palco. Ana, impressionada, visualisava cada movimento seu em câmera lenta. Os olhos verdes, a pele branca, as tatuagens, as mãos... Os dedos ligeiros passeavam com naturalidade e vigor pelas cordas da guitarra. Ana chega mais perto do palco, algumas garotas a reparam mas ela nem dá atenção. Queria mesmo era ver mais de perto aquelas mãos. Reparou que sua guitar hero tinha uma nota musical tatuada no pulso, assim mais de perto os dedos eram maiores e mais ágeis. Ficou imaginando qual seria seu nome, onde morava, se tinha namorada. Não conseguia tirar os olhos dela, sentia-se uma estrangeira ali. Com certeza sua heroía não devia gostar de mpb. Tentou ensaiar algo para dizer, planejou tudo... Assim que o show acabasse ela iria pedir um autógrafo e tentaria de repente uma foto se a câmera do celular funcionasse. Aquele cabelo, aquela boca pequena, a cara de mau, os olhos verdes, os dedos... Mal podia esperar para falar com ela. Saiu do transe para se desviar de um grupinho que saltava do palco para a platéia e, para sua surpresa, sua heroía saltou também, caiu nos braços da multidão, ainda dedilhando a guitarra. Continou assim com a música que era entoada por todas ali, menos por Ana.


O show acaba, Ana já desconfiava onde seria o camarim. Se desvia da multidão já com a câmera em mãos, papel e caneta. Eufórica, no vê a hora de chegar perto dela. Um abraço, quem sabe? Avistou-a. As mãos suadas, antes firmes, segurando a caneta bic, agora a deixam deslizar e cair. A encantadora de guitarras está beijando emocionada sua colega de banda. Ana avista o caixa, acende um cigarro. Outro show tem início no palco.


Fonte: MixBrasil/Por Dilvânia Santana


Aproveitamos a oportunidade para lembrar que o programa Profissão Repórter de hoje tem como matéria: Os fãs e seus ídolos. O programa começa após o Toma Lá Dá Cá, na Globo.


Equipe FC DonanaCarolina

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